terça-feira, 24 de maio de 2011

País de Ali Babás

A BBC londrina merece crédito, ao contrário daqueles tablóides sensacionalistas muito ativos na mídia inglesa. Então podemos acreditar, segundo denúncia da tevê, que Ricardo Teixeira, o imexível presidente da CBF, foi subornado em votações para a escolha de duas sedes da Copa do Mundo. Os ingleses perderam os mundiais de 2018 e 2022 para Rússia e Qatar, respectivamente. Reza a lenda que Teixeira já devolveu parte do dinheiro recebido para sustar a divulgação do processo da venda de votos. Azar dele que um juiz do tribunal suíço deu com a língua nos dentes e o escândalo bateu às portas da CBF.

Mais um crime apenas. A diferença é que estamos nos preparando – estamos mesmo? – como anfitriões da Copa de 2014. E daí? Não vamos nos esquecer que em nosso amado e idolatrado país a impunidade premia, conforta e protege ladrões e assassinos que circulam no patamar mais alto de nossa sociedade. Como dizia aquele personagem do Chico Anísio, “o povo que se exploda”.

Presidentes, senadores, governadores, deputados, desembargadores, juízes, jornalistas de alta patente – sim, por que não? – vivem em uma bolha, blindados contra qualquer ação punitiva. Querem exemplos? Lembrem do passado recente, nossa jovem democracia ainda fresquinha.

O que houve no governo Fernando Collor deve ter sido um equívoco, resultado de denúncias vazias. Onde está o homem, onde estão seus asseclas? No Senado, na Câmara, por aí. As privatizações no governo Fernando Henrique são até hoje um mistério insondável. Os mensaleiros do Lula seguem assombrando o país. Volta e meia retornam na pele de Ministros de Estado para puxar nossos pés para que não os atrapalhemos na nobre missão do enriquecimento rápido.

Como Juscelino em seu Plano de Metas queria desenvolver o Brasil 50 anos em cinco, essa turma também quer mudar rápido, da conta poupança popular para conta bancária na Suíça. Justo onde Ricardo Teixeira gosta de operar. Enquanto isso tente utilizar hospitais, experimente matricular seus filhos em escolas e universidades públicas, se arrisque a transitar com segurança pelas ruas da sua cidade ou viver tranquilo dentro da sua própria casa.

Bandidos, todos eles. O presidente da CBF está sendo acusado de corrupção, coincidentemente junto com seu ex-genro João Havelange. É só mais um caso. Aqui mesmo temos um companheiro seu, marajá da Assembléia e presidente eterno da Federação Catarinense. Nome dele? Delfim Pádua Peixoto Filho. É a casa onde os inválidos, um a um, ouviram a célebre frase: "levanta-te e anda, vai gozar da tua gorda e merecida aposentadoria".

A nossa mídia esportiva prefere se dividir entre a conveniência de afagos e programas esportivos tansformados em humorísticos. A parte séria, cansada de dar murro em ponta de faca, logo, logo vai esquecer o assunto. Além do mais já temos ladrões do dinheiro público e corruptos de toda a ordem para nos entreter. São bem mais do que 40 ladrões.

Um comentário:

  1. Texto antológico de indignação e denúncia, jornalismo da mais alta qualiade, editorial obrigatório do país que ainda esperneia em luta pela dignidade. Os corruptos que voltam para nos puxar os pés ou os programas esportivos que viraram humorísticos enquanto a parte séria dá murro em ponta de faca são as metáforas supremas deste que é um dos gtrandes textos brasileiros de 2011.

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