Sete pedras no caminho
De tudo o que já foi dito e escrito sobre o que antecedeu a tragédia da Fonte Nova e suas conseqüências, colhi na coluna de Augusto Nunes, no Jornal do Brasil, uma boa análise dos cartolas, políticos e suas estripulias. Para conhecimento, leitura e reflexão de quem ainda não se deu conta de quem são os tipos e o que faz essa irmandade contra o futebol brasileiro.
"Vocês não têm outro assunto”?, irritou-se Ricardo Teixeira ao ouvir a pergunta que abriu a entrevista improvisada na manhã de segunda-feira (26/11). Ele estava no Palácio da Cidade para conversar com o prefeito Cesar Maia sobre a Copa de 2014. Pensava no futuro. Os jornalistas estavam lá para saber o que tinha a dizer o chefão da CBF sobre a tragédia ocorrida em Salvador no domingo. Para o cartola, pensavam num passado remoto.
Dez minutos antes do fim do jogo entre Bahia e o Vila Nova, diretores do clube abriram os portões para que mais torcedores engrossassem a multidão de 70 mil convivas da festa que não houve. O desabamento de um pedaço da arquibancada matou sete, feriu quase 200 e impôs ao País do Futebol o mais dramático domingo. Mas Teixeira não é de perder o sono por tão pouco.
"Estamos pesarosos pelos resultados", tentou virar a página, com a voz na fronteira que separa o tédio da exasperação. Perdeu de vez a paciência ao constatar que os jornalistas só pensavam naquilo. "Por que falar só do acidente?", subiu o tom Teixeira. "Vocês não querem falar de futebol, não? Vamos falar de futebol", desafiou. Para sorte do desafiante, os desafiados recusaram a proposta formulada por um homem que nada entende de futebol. Nunca jogou bola, nem na infância. Se subir num par de chuteiras, certamente vai cair de quatro.
O cargo que ocupa caiu-lhe no colo como parte do dote da noiva, filha única de João Havelange. Quando o casamento terminou, o alpinista conjugal já chegara ao cume da montanha. Descobrira que não era preciso entender de futebol para ficar por lá. Bastavam jogadas fora do campo.
O flamenguista Teixeira nunca decorou o nome completo do Flamengo, nem a escalação do time liderado por Zico. Mas aprendeu a escalar presidentes de federações estaduais e chama pelo prenome as figuras que mandam na Fifa. A Copa do Mundo de 2014 não é nossa. É de Teixeira.
Na segunda-feira, não estava preocupado com a tragédia, mas com a festa. Não via mortos, mas pedras no caminho. "Não vou dizer mais sem ler o relatório", esbravejou. "Vocês conhecem o relatório? Nem eu". Mentia. Teixeira conhece vários relatórios sobre o estádio administrado em parceria pelo governo estadual e pela cartolagem do Bahia. Todos anunciaram a tragédia.
Em 2005, a prefeitura de Salvador pediu a interdição da Fonte Nova. O pedido foi reiterado em 2006 pelo Ministério Público e, em setembro passado, pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia. "O estádio foi inteiramente reformado", jurou o governador Jaques Wagner num programa de rádio. Ele driblou a verdade para garantir um jogo da Seleção na Bahia. Teixeira fingiu acreditar em Wagner, que agora resolveu implodir o alçapão assassino. Agora é tarde.
A Bahia de Jaques Wagner não merece a Copa que a CBF de Teixeira tampouco merece organizar. Os brasileiros querem só ganhar a Copa. Cartolas e políticos espertos só pensam em ganhar com a Copa.
São Jorge Menezes
As conseqüências do rebaixamento do Corinthians serão sentidas ao longo da temporada de 2008, a começar pelas dificuldades criadas para os demais participantes da série B. Ou alguém duvida de que uma das quatro vagas do acesso é corintiana? O técnico Mano Menezes apostou nisso ao recusar convites do exterior e da primeira divisão. Vai ganhar muito dinheiro e virar estátua no Parque São Jorge. Haverá uma enxurrada de transmissões de jogos do Corinthians e a mídia esportiva do país inteiro redobrará suas atenções com a segunda divisão, criando uma blindagem natural para eventuais problemas que possam ameaçar o desenvolvimento da competição.
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