Fim de semana em Porto Alegre foi de vivências extremas. Na
sexta à noite, encontro com os amigos com quem fui criado no bairro
Menino Deus, no nosso clube, o Grêmio Náutico Gaúcho. Aliás, a única
coisa "gremista" na minha vida. Meus primeiros passos futebolísticos
foram no Estádio dos Eucaliptos, velha casa do Inter. Ali ganhei a
primeira camisa vermelha.
No sábado à noite aconteceu
o incêndio do Mercado Público. Minha geração tem muita história para
contar daquele pedaço muito querido da cidade. Nossas madrugadas
festivas terminavam no começo da manhã no restaurante Treviso, aberto 24
horas para receber os notívagos. Lá nos esperava uma canja reparadora,
com um ovo aberto no meio e uma pimentinha caseira. Barriga quentinha, o
sono da manhã era nossa última etapa na cura do porre.
Nos
jornais desta segunda-feira os cronistas da cidade fizeram do Mercado
Público e sua quase grande tragédia um tema comum. Luís Fernando
Veríssimo registrou o fato comentando que o fogo do sábado atingiu nossa
memória afetiva. "Qualquer que fosse a dimensão do incêndio a ferida
seria a mesma".
Para espanto geral e em meio a tantos lamentos, o
gremista juramentado, Paulo Santana, sugeriu a imediata implosão do
prédio incendiado. Ele justifica já no título com uma máxima do
capitalismo americano: "no parking, no business". Ou seja, sem
estacionamento não há negócios. Santana quer uma edificação nova,
moderna, com muitas vagas para carros. "Afinal - diz ele - aquilo lá
hoje é um shopping onde se vende de tudo. É inconcebível não ter
estacionamento".
Daqui a pouco vou passar pelo mercado, como se
fosse às compras ou tomar um chope com salada de bacalhau no Gambrinus,
herdeiro do Treviso e da cadeira do Chico Alves, pendurada em uma das
suas paredes. Mas já estou voltando ligeirinho para Florianópolis, em
tempo de aproveitar o nosso Mercado, do Box do Beto, do Alvim, da Toca
do Urso e das peixarias. Do jeito que vão as coisas, sei lá onde tudo
isso vai parar.
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