quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mais uma turma que gosta de se locupletar no esporte

(E DEPUTADA ANGELA ALBINO IMITA LULA: NÃO SABIA DE NADA)

O título e o parênteses são meus. A matéria é de Larissa Guera, do Diário Catarinense

A casa número 1.797 da rua Araci Vaz Callado, na Coloninha, já teve dias mais movimentados. Sede da ONG Instituto Contato, que virou personagem de denúncias de desvio de verbas do Ministério do Esporte e agora é alvo de uma investigação da Polícia Federal, o imóvel está fechado como uma casa de família em férias. Com uma diferença: nem vizinhos nem amigos e conhecidos sabem dizer se a entidade ainda existe e qual o paradeiro de seus representantes.

Durante uma semana, a reportagem esteve na sede da entidade em horários diferentes à procura de alguém que pudesse falar sobre a nova onda de denúncias contra a ONG, acusada por um empresário do Rio de Janeiro de ser uma das entidades que desviavam recursos do programa Segundo Tempo e repassavam a parlamentares do Rio, Distrito Federal e Santa Catarina. Ninguém foi encontrado.

Pela residência, há sinais de que a ONG que chegou a receber R$ 39 milhões em convênios com o Ministério do Esporte, Banco do Brasil e Eletrosul entre 2007 e 2011 não quer aparecer. Sem a placa de identificação usada até o ano passado, só há rastros de abandono. Há lixo e caixas deixados em um canto da casa, folhas se acumulam no quintal. A única movimentação observada pela equipe ocorreu entre terça e quarta-feira, quando toda a correspondência acumulada foi levada embora.

Na vizinhança, os comentários são de que a única pessoa que costuma aparecer no local seria um homem encarregado de fazer serviços de manutenção.

— Tem mais de duas semanas que não vejo ninguém dessa ONG. Antes a gente até via algum movimento, mas já faz um tempo que não tem nada funcionando na casa — diz uma funcionária de um residencial geriátrico localizado ao lado da residência em uma das primeiras visitas que a equipe fez ao local.

Entre conhecidos dos principais dirigentes da entidade, Rui de Oliveira e Simone Fraga, o clima de mistério permanece. Filiados ao PC do B, colegas de partido como o presidente da sigla em Florianópolis, Jucélio Paladini e a deputada estadual Angela Albino disseram que há meses não encontram com a dupla.

A deputada, que chegou a participar de eventos da ONG e até a escrever um depoimento sobre sua relação com a entidade em uma revista institucional (veja o texto abaixo) recorda que não vê os dois "desde antes da campanha".

— Conheço os dois do partido mesmo, mas já tem um bom tempo que não os vejo — diz a deputada.

As tentativas de localizar Simone e Rui por telefone e internet também foram em vão. A reportagem enviou e-mails, fez telefonemas para números informados pelo partido e tentou fazer contato com os diretores executivos do instituto via redes sociais. Seu site está fora do ar desde 9 de novembro. A página no Facebook foi excluída.

Fundada em 1992 com o nome Associação Contato, a ONG ganhou destaque a partir de 2007, quando assinou contrato com o Ministério do Esporte, comandado na época por Orlando Silva (PC do B), para instalar cem núcleos do programa Segundo Tempo em Santa Catarina.

No ano passado, uma série de denúncias de desvios de recursos e de fornecimento de materiais de baixa qualidade para os núcleos criados pelo programa colocaram parceria entre entidades e o ministério em cheque. O escândalo foi um dos fatores que levou Orlando Silva a deixar a pasta. Desde a posse de Aldo Rebelo (PC do B), os contratos estão suspensos.

Denúncias na Polícia Federal

Com a nova onda de denúncias feitas contra o Instituto Contato, a Polícia Federal convocou o empresário João Batista Vieira Machado, dono da JJ Logística Empresarial, para prestar depoimento sobre o caso.

No início de novembro, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Machado afirmou que foram desviados 90% dos R$ 4,65 milhões recebidos por sua empresa entre 2009 e 2010 do Instituto Contato para fornecer lanches durante as atividades do Segundo Tempo.

O depoimento, na sede da Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, ocorreu na semana passada e durou mais de duas horas. O empresário encaminhou documentos que, segundo ele, comprovariam os desvios. Questionada sobre o andamento das investigações, a assessoria do órgão preferiu não se manifestar.

Procurado pelo DC para falar sobre o assunto, o ministro do esporte, Aldo Rebelo (PC do B), não quis se manifestar. Em seu lugar, a assessoria da pasta encaminhou uma nota explicando que, desde a mudança de comando no ministério, os contratos com ONGs foram suspensos e uma força-tarefa passou a analisar todos os convênios à procura de irregularidades.

O ministério confirma que foram encontrados problemas em um contrato assinado em 2010 com o Instituto Contato, o que teria motivado a inscrição da entidade como "inadimplente" e a rescisão do contrato com a instituição. Uma tomada especial de contas teria sido solicitada ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Na mesma época, a Eletrosul decidiu encerrar seu contrato com a ONG. Até então, a estatal tinha repassado R$ 150 mil ao instituto para despesas com recursos humanos e logística do programa. Outro parceiro da entidade, o Banco do Brasil também extinguiu a parceria após sua classificação como inadimplente.

Por meio de sua assessoria, o TCU informou que estuda as prestações de contas de ONGs contratadas pelo ministério para a execução do Segundo Tempo. O processo ainda não foi julgado. Com relação à Tomada de Contas Especial, o órgão não possui nenhum processo dessa natureza em andamento, mas não desmente o pedido feito pelo ministério.

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