Por Carlos Castilho em 07/01/2013
Observatório da Imprensa
Com a crise no modelo de negócios das empresas jornalísticas, um dos
primeiros setores a sentir os efeitos dos cortes foi o do noticiário
local — gerando uma lacuna que impede o monitoramento de vereadores,
deputados e senadores pelos seus eleitores.
A esperança era que os milhares de blogs,
twitters e integrantes de redes sociais pudessem preencher esse espaço,
mas a realidade não corresponde à expectativa, pelo menos por enquanto.
A maioria dos blogs e perfis no Twitter têm se preocupado mais com as
idiossincrasias de seus autores e com questões político-partidárias do
que com as necessidades e interesses de comunidades sociais urbanas e
rurais.
O vácuo no noticiário local contribui para o isolamento
entre os eleitores e os seus representantes em instâncias legislativas,
criando condições para que vereadores, deputados e senadores
administrem os seus cargos como se fossem um emprego privado, onde o
eleitor só entra quando há a necessidade de renovar o mandato.
Este comportamento tornou-se meridianamente claro em episódios como os
aumentos salariais autoconcedidos. Os parlamentares, por se sentirem
isentos de qualquer preocupação em prestar contas, tomam decisões em
beneficio próprio, sem o menor escrúpulo.
É uma situação
potencialmente critica, conforme constatou, já em 2011, um informe da
Knight Foundation, fundação norte-americana que estuda as consequências
da crise na cobertura local. Nos Estados Unidos, a ausência de notícias
locais é vista como um fator de enfraquecimento na relação entre
governantes e governados, gerando um clima propício ao dirigismo
autoritário.
No Brasil, a consequência do mesmo fenômeno é mais
próxima da delinquência legislativa, pois serve de pretexto para a
generalização do desvio do dinheiro público para fins privados ou
corporativos. Também aqui a democracia está sendo minada pela falta de
patrulhamento por parte do eleitor, do qual não nos damos conta porque a
noção de direitos do cidadão ainda é muito recente entre nós.
A emergência dos blogs como ferramentas a serviço do eleitor é
inevitável, mas tomará algum tempo porque implica a mudança de
comportamentos e valores ainda muito entranhados na população
brasileira. O tempo pode contribuir para que o distanciamento entre
governantes e governados chegue a um ponto crítico.
Por isso,
ganha corpo a ideia de uma cooperação entre as empresas jornalísticas e
blogueiros preocupados com a cobertura de temas locais. Uma parceria
seria ideal porque os cidadãos podem oferecer notícias, imagens e sons
cuja coleta sairia muito caro para empresas que estão trabalhando “no
osso” em matéria de pessoal nas redações. Por seu lado, as empresas
poderiam retribuir oferecendo capacitação técnica para os jornalistas
“amadores” melhorarem a qualidade do noticiário publicado em seus blogs.
Quase todos os grandes jornais já criaram espaços para a participação
dos leitores, mas isso ainda não configura uma parceria, pois há
resistências dos dois lados. As empresas alegam que o treinamento de
amadores ou praticantes do jornalismo não é sua função, ao mesmo tempo
em que demonstram uma clara má vontade em tratar os leitores em pé de
igualdade. Elas aceitam fotos, vídeos e notícias que não poderiam obter
por custo, mas a relação pára aí. Por seu lado, os blogueiros se queixam
que são usados como mão de obra barata ou gratuita no fornecimento de
material local.
Enquanto as duas partes mantiverem essa
desconfiança, ambas saem perdendo — os cidadãos, porque continuarão
impedidos de monitorar seus representantes legislativos. A imprensa
brasileira tem se preocupado ultimamente em patrulhar políticos, mas
isso tem sido feito com uma forte influência de interesses corporativos
ou eleitorais, o que não contribui para reduzir as reticências dos
blogueiros.
Assim, estamos agora num limbo onde a falta de
informação local prejudica o exercício da cidadania e impede a imprensa
de transformar essa modalidade de cobertura jornalística em fonte de
renda num tempo de vacas magras.
PF cumpre 30 mandados em operação para combater fraudes bancárias
-
Agentes cumprem, nesta 4ª, mandados em 7 estados para identificar
"laranjas", pessoas físicas usadas para receber transações fraudulentas
Há uma hora
Muito bom!
ResponderExcluirAmei o Blog, muito bom!
ResponderExcluir