A eliminação do Brasil pela Argentina não pode nem deve ser tratada como fato isolado, um problema apenas do nosso futebol que ainda não conquistou o ouro olímpico. Faz parte de um contexto, a nossa má preparação para a Olimpíada, com as exceções de praxe como o voleibol, modalidade que caminha com suas próprias pernas há décadas e que, por ironia, teve seu desenvolvimento a partir de um trabalho de Carlos Artur Nuzman, atual presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Sem uma política voltada para o esporte, e que deveria correr em paralelo com a área da educação, seguiremos gastando muito dinheiro para alcançar resultados pífios, além da irresponsabilidade no trato da coisa pública. Está na roda o seu, o meu, o nosso dinheiro. A seleção de futebol reuniu-se a 15 dias da Olimpíada e cheia de incertezas por causa da queda de braço entre o COI e a FIFA. Sabendo disso a CBF deveria se precaver nas convocações, o que não aconteceu. Outras modalidades foram comprometidas pela falta de organização, e aí curiosamente aparece o voleibol de praia, que mandou para Pequim jogadora com lesão grave, assim como o judô, obrigado a desconvocar uma atleta na véspera da competição. Ainda tivemos o caso de um jogador do handebol flagrado no exame antidoping, e até cavalos doentes ou machucados desfalcando a equipe de hipismo. As últimas vítimas foram o atletismo com a vara perdida por Fabiana Murer na hora da sua prova e Yane Marques, do pentatlo moderno, cuja mala com seu equipamento foi totalmente danificada por uma companhia aérea. Quer dizer, com culpa ou sem culpa, batemos o recorde errado, o de micos em uma Olimpíada, um ingrediente a mais a fragilizar nossa já tão combalida delegação tecnicamente falando. Numerosa, como destacaram Nuzman e o Ministro do Esporte Orlando Silva, mas sem a qualidade mínima necessária para representar bem o país.
O Brasil que não dá cadeia
Apesar de tudo continuaremos perdulários. É da nossa cultura, apressamo-nos a justificar. Não há prestação de contas, como os gastos com os já passados Jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro. E nada vai acontecer, pelo menos enquanto o Tribunal de Contas da União não apresentar seu relatório que dorme sono profundo em alguma gaveta daquele órgão. É muito dinheiro concentrado nos cofres de poucos e com aplicação duvidosa, fato que passa longe dos principais veículos de comunicação do país, ocupados prioritariamente com ufanismo e muita bobagem. Assim chegamos a Pequim, de onde voltaremos quase de mãos abanando e sem medo de algemas. Mas dispostos a novas promessas e diversificadas enganações, prática que vai se espalhar de agora em diante por algumas regiões do país candidato à sede da Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016.
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