Por ALBERTO MURRAY
Se eu fosse Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, eu:
- teria vergonha de ver meu nome estampado na primeira página do maior jornal da minha Cidade, acusando-me de ter feito uma reeleicao sorrateira;
- ficaria enrubescido no corpo inteiro ao ver o outro grande jornal da minha Cidade, acusando-me da mesma coisa que o outro;
- teria dores de estômago ao perceber que a mídia de todo País condenava os meus métodos de reeleicao;
- setirme-ia- pior ainda ao verificar que ate a mídia não especializada desviara atenção para a minha reeleicao, acusando-a de ilegitima;
- pediria para sair se constatasse que o que eu fiz não agradou a ninguem, principalmente aos Atletas, que deveriam ser a voz mais importante a ser ouvida;
- enfiaria a cabeça no primeiro buraco da praia de Ipanema, feito um siri, ao prometer mundos e fundos em algum dossie de candidatura em realização de obras de infra-estrutura para o povo da minha Cidade e não ter cumprido uma meta sequer. Não teria coragem de jogar a culpa disso em cima dos Poderes Públicos;
- teria catapora ao mostrar aos membros da Organização Desportiva Pan-Americana ("ODEPA") que não fiz construir uma única dessas obras e que os "elefantes brancos" que edifiquei não ficaram, ao menos, à disposição do povo para, livremente, praticar esportes;
- ficaria sem voz ao constatar que, apesar dos bilhoes de Reais de dinheiro público empenhados nos Jogos Pan-Americanos, a opinião especializada concluísse que o legado para a minha Cidade fora zero;
- não saberia aonde enfiar a cara se o Tribunal de Contas do meu próprio País desse um retumbante NÃO à minha prestação de contas sobre alguma competiçao internacional realizada sob os meus auspicios;
- não faria de nenhuma Cidade do meu Pais candidata à sede de Jogos Olimpicos enquanto não fossemos uma potência economica com distribuição justa de renda, em saúde, educação, transporte, moradia, segurança, meio ambiente, cultura e tantos outros itens;
- pediria ao Governo que, em vez de empenhar milhões e milhões de Reais em uma candidatura fadada ao fracasso, aplicasse esse dinheiro na base do esporte, nas escolas públicas de ensino elementar. Eu colocaria minha experiência à serviço do Governo para auxiliar nessa tarefa. Chamaria de demagogo o Prefeito, Governador, ou Presidente que quisesse trazer uma Olimpíada para o Brasil;
- eu respeitaria a lei e faria licitação para todos os servicos contratados com terceiros;
- eu acabaria com intermediários, desnecessários, como agências de viagens, que ganham comissões às custas das reservas de passagens e hoteis comprados à partir do Comitê;
- eu não deixaria que qualquer membro do Comitê tivesse qualquer relacionamento empresarial com interesses financeiros ligados à àrea de esportes;
- eu tentaria passar ao povo a mensagem de que ser potência olimpica a qualquer custo é uma idiotice. Eu diria que mais importante do que contar medalhas é desenvolver na juventude o gosto pela prática do esporte para se ter uma nação mais saudável. Que após muitos anos, criando-se no País uma mentalidade Olimpica, da quantidade tiraríamos a qualidade:
- aliás, lutaria para que o Ministerio da Educação incluisse em seu programa básico de ensino a obrigatoriedade de aulas de Olimpismo, na disciplina de educação fisica, ou de história. Isso também obrigaria aos Professores estudar a materia;
- não "babaria ovo" para Presidente, Ministro, Secretário, patrocinador ou quem quer que fosse. Agiria com educação, mas não me afastaria, nunca, de meus princípios olímpicos, sendo capaz de criticar, publicamente, qualquer autoridade que eu achasse que devesse ser criticada. E de elogiar quem eu achasse que deveria ser elogiado;
- não teria o rabo preso com ninguém;
- estimularia às críticas dos outros a mim mesmo e as analisaria com humildade para, quem sabe, corrigir rumos;
- responderia a todas as perguntas da imprensa, sem destratar qualquer repórter, mesmo quando julgasse que algumas perguntas fossem provocativas. Esse, também, é o oficio deles;
- faria definições claras para a distribuição do dinheiro da Lei Piva;
- certamente, não faria sozinho esses critérios. Chamaria as Confederações, Federações, Clubes e Atletas a dar sugestoes;
- não concordaria com a "meritocracia" em que os esportes mais ricos, por terem outras fontes de renda, estariam sempre em primeiro lugar;
- tentaria achar uma forma justa de dar mais a quem tem menos, as chamadas Confederaçoes menos prestigiadas;
- exigiria das Confederações que, como um dos critérios para o repasse de verba, fosse apresentado ao Comitê a realização de trabalhos sociais, do desenvolvimento do seu esporte em comunidades pobres;
- acabaria com essas seleções permanentes e centros de excelência "de faz de conta". Ao mesmo tempo em que exigiria disciplina dos Atletas de alto rendimento, o deixaria livres para treinar em seus clubes (célula mater do esporte brasileiro), vivendo em suas Cidades, ao lado de suas familias. As seleções poderiam reunir-se, talvez, uma vez por mes. Por princípio, os Atletas de alto rendimento devem ser responsáveis por sua vida regrada. Temos que confiar no bom senso de cada um deles;
- repassaria a maior parte do dinheiro público às Confederações, às Federações, aos Clubes e ao Atletas, porque quem menos precisa de dinheiro é o proprio Comitê, cuja função não é formar o Atleta. É a de dar condições para isso;
- acabaria com verbas altíssimas de "manutenção da entidade" e daria outra destinação a essas quantias. Certamente iria para o desenvolvimento do esporte;
- daria menos festas;
- não faria publicidade nem do Comitê, muito menos de mim mesmo, com dinheiro da entidade;
- exigiria prestação rígida de contas e não admitiria um só deslize. Tratar com dinheiro publico é coisa muito séria;
- eu daria liberdade de Associação à Academia Olímpica Brasileira, deixando com que seus próprios Membros escolhessem a sua diretoria;
- apoiaria os Estudos Olímpicos, pois a base de tudo isso nada mais é do que o Olimpismo como uma filosofia de vida a ser difundida na sociedade;
- não faria média com Confederações, levando à Jogos Olimpicos Atletas com índices fracos, apenas para inchar a delegação e sair por ai dizendo "essa é a maior delegaçao bla, bla, bla…" E daí que é a maior delegação? Jogos Olímpicos coroam a vida de um Atleta e não é lugar para se ganhar experiência;
- reduziria meu próprio mandato para uma eleição de quatro anos, com direito a uma única reeleição;
- lutaria para que o mesmo fosse feito com as Federações e Confederações;
- eu revogaria, de cara, o artigo 26 dos Estatutos do Comitê, que impede que qualquer cidadão brasileiro seja candidato à Presidente e Vice-Presidente da entidade, a qual, hoje, vive do dinheiro do povo;
- faria constar dos contratos de patrocínio assinados com empresas privadas, uma cláusula inversa à de confidencialidade. Uma cláusula que exigisse do Comitê dar publicidade àqueles contratos. Se as partes não têm nada a esconder, esse é o único caminho;
- incentivaria a literatura olímpica e esportiva de uma maneira geral, de forma mais democrática;
- tentaria dar aos nossos talentos excepcionias o tratamento especial que eles merecem. Mas não os confinaria em "campos de concentração". Eu teria que acreditar no bom senso desses Atletas e em sua auto-disciplina. Se ele quer ser um grande Atleta, deve partir dele, antes de tudo, a responsabilidade pelos seus atos. Atleta-talento sem responsabilidade não é Atleta. Quem tem a perder é somente ele. E perderia mesmo, se fosse um irresponsável e não soubesse aproveitar as boas oportunidades;
- eu daria mais ênfase às competições nacionais estudantis e universitárias. O esporte universitário é uma das coisas mais bonitas que existem nesse meio;
- lutaria pela criação de uma agência nacional de esportes, a ser tocada por técnicos com mandato, livres de influências politicas, para fazer um planejamento a longo prazo para o esporte brasileiro;
- eu acabaria com a Casa Brasil em Jogos Olímpicos, que acaba não servindo para nada. Ou se quisessem fazê-la, que fosse por conta e ordem da iniciativa privada;
- eu não levaria presentinhos para os Membros do Comitê Internacional Olímpico. Isso não dá prestigio a ninguém. Eu tentaria obter o prestígio deles pela seriedade e clareza de minhas posições;
- exerceria a função com autoridade, mas, nunca, com autoritarismo;- eu acho que eu seria o maior crítico de mim mesmo, que seria capaz até de me fazer auto-oposição em alguns momentos.
Postado no blog de Juca Kfouri na segunda-feira
http://albertomurray.wordpress.com:80/
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