quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Querem me enlouquecer

Levei um amigo ao aeroporto Hercílio Luz quarta-feira (21) à tarde para embarcar pela Gol às 14h50 com destino a Brasília, conexão em São Paulo. Vôo cancelado, dizia o quadro de partidas. “Avisamos os passageiros”, mentiu a funcionária no balcão da companhia. O amigo embarcou só às 16h40, correndo o risco de perder a conexão em Congonhas (antes era Guarulhos), seu novo destino intermediário.


No meu caso enfrento a Tim, Net e Celesc. É coisa, né? Para um final de ano, quando saúde e paz são os votos com mais ibope, é de encher o saco de qualquer cidadão desprotegido, apesar de todas as agências reguladoras inventadas por nossos governantes preocupados com o desemprego.


Com a Tim o problema é simples: falta de sinal em locais dos mais surpreendentes. Pode ser até ao lado de uma antena da companhia. Com a Celesc a relação é um pouco mais complicada: mudei pra casa nova e espero a luz há quase um mês.


A Net merece um parágrafo especial. Tenho o tal de Combo, tevê, telefone e internet. Um dia antes da mudança, que aconteceu dia 30 de novembro, pedi a suspensão temporária da assinatura. Ainda não tenho luz, não sei quando será ligada. Apesar da minha advertência, a atendente, “por garantia”, decidiu agendar a religação no meu novo endereço. Dias depois, e antes da data marcada, recebi telefonema da Net para confirmar o serviço. Repeti a ladainha. Não tenho luz. Para minha surpresa, no dia agendado apareceram dois técnicos para efetuar o serviço. Muita paciência (afinal, os caras não têm culpa pela esculhambação) e novo relato para explicar a situação. Acabou? Que nada. Passado um tempo, e eu ainda sem luz, recebo telefonema perguntando se a ligação podia ser ativada. Pqp, pensei. Só pensei, em respeito à senhora ou senhorita do outro lado do fio. Explicado o assunto ouvi a pergunta surpreendente. “Quer suspender a assinatura”? Pensei que já estava suspensa faz tempo, respondi já rezando um Pai Nosso. Esclarecido? Não. Nesta quarta, junto com a aventura no aeroporto, de novo a Net: “Estamos com um comunicado de cancelamento da sua assinatura. O senhor confirma”?

Não fiz um escândalo porque estava ao lado do meu amigo, no balcão da Gol, acompanhando sua tentativa de solução para poder chegar em Brasília, ainda naquele dia, com uma carga/encomenda de cinco quilos de camarão.

Quando a galinha do vizinho é muito pior

Santa Catarina foi escolhida sede do Campeonato Mundial do handebol Feminino, uma espécie de reconhecimento ao potencial desta modalidade no estado, com destaque para a equipe de Blumenau, várias vezes finalista da Liga Nacional.

Perdemos a sede do evento para São Paulo por conta de exigências absurdas feitas pela Federação Mundial aos dirigentes catarinenses. Como relata o leitor e desportista Hans Werner Hackradt:


"SC deveria ter sido a sede do evento. Exigiram climatização nos ginásios, áreas vips de qualidade superior, transporte individual para alguns figurões (40 no mínimo) ....etc. Orçamos tudo em 12 milhões. O Governo não topou e levaram para São Paulo.


Em São Paulo os ginásios não tiveram climatização, a área vip foi demarcada com folhas de papel almaço, pouquíssimo público ( o que aqui não iria acontecer), dificuldades com locais de treinamento e outros inúmeros problemas.


Acho que pelo que eles gastaram com os cortes nas exigências (que eram só para nosso Estado), nós teríamos feito muito melhor. Não acham?
Eu tenho certeza - somos um Estado que sabe recepcionar e acolher os amigos e na área do esporte. Apesar de jogados em 3º plano, ainda damos exemplo".



Também acho Hans. Mas se derem dinheiro para uma competição importante como essa do handebol, não vão sobrar recursos para a Secretaria da Cultura, Turismo e Esporte gastar a rodo com projetos eleitoreiros e inúteis. Inclusive desrespeitando e desmoralizando o Conselho Estadual do Esporte, que não aprova alguns desses projetos, mas os vê contemplados pela Secretaria com verbas de deixar o Tio Patinhas roxo de raiva.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Da mazembada ao barcelonaço

Quem da grande imprensa esportiva brasileira teria coragem de dizer que o Santos não tinha a mínima chance diante do Barcelona, que entraria numa roda de bobo e que perderia de goleada? Ou pelo menos simplesmente afirmar que uma derrota honrosa era o melhor resultado que o time paulista poderia alcançar. Nada disso apareceu nos noticiários nos dias que antecederam a decisão do Mundial de clubes. Ao contrário, só se falava e escrevia sobre o grande duelo entre Messi e Neymar. Engano que provoca desastres como esse do Santos, e do Inter em 2010 contra o Mazembe. Agora surgiram os profetas do acontecido.

Tudo bobagem. Quando a verdade ficou escancarada aqueles que acompanham bem de perto o futebol no mundo por estarem toda hora próximos dos grandes eventos destravaram a matraca. A hegemonia européia apareceu junto com o futebol insuperável do Barcelona, sobrando para nossos times e a seleção brasileira os piores diagnósticos e as projeções mais pessimistas.

Infelizmente essa é a realidade do futebol brasileiro sempre empurrada pra baixo do tapete, com a sua desorganização, com seus jogadores precocemente transformados em craques (ou inventados como tal), com seus treinadores superados e adeptos do futebol dos chutões, da retranca, da bola parada, todos dependentes da individualidade de alguns fora de série.

É com tal mentalidade retrógada e alimentada pela mídia que vamos enfrentar as próximas competições internacionais como a Copa Sul Americana e a Libertadores, além da Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo no ano seguinte. A seleção brasileira não deu mais no couro e o futuro do time comandado por Mano Menezes não é confiável. Mas continuaremos insistindo nas teses caducas de que jogamos o melhor futebol do mundo e de que produzimos uma série interminável de craques.

É bom mudarmos de opinião rapidamente antes que a tragédia aconteça. È bom também lembrar aos dirigentes que transformam seus clubes em grandes balcões de negócios na compra e venda de jogadores desgastados pelo tempo e por lesões, que investimentos nas divisões de base com estrutura profissional dão muito retorno. O Barcelona, exemplo fresquinho na memória do torcedor, do Santos, especialmente, tem no seu grande time titular nove jogadores criados em casa, mais os que passam pelo banco de reservas. Pensemos muito bem nisso, antes que os compromissos futuros nos tragam mais decepções, piores até do que a do último domingo com o Santos e a do Mundial anterior com a “mazembada”.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mataram o Mosquito

Não é porque o Mosquito morreu que vou sair por aí dizendo que ele era o melhor homem do mundo. Mas estava longe de ser o pior e merecia algum tipo de reconhecimento, mas em vida, não depois de morto. Tivemos nos últimos tempos uma relação conturbada em virtude das suas cobranças. O Mosquito tinha um jeito torto de enxergar o jornalismo e os jornalistas, inclusive os mais próximos dele, que de alguma forma o viam com simpatia.

Dada a sua língua destravada e por vezes inoportuna foi perdendo pelo caminho algumas boas cabeças que podiam abraçar as suas causas e acompanhá-lo na sua jornada contra a corrupção. Sua metralhadora giratória não poupava ninguém, às vezes nem seus amigos ou simplesmente conhecidos sempre interessados na leitura das suas tijoladas. Infelizmente a pressão do outro lado foi maior do que a que ele estava preparado para suportar.

E no final todo mundo matou o Mosquito, me sussurra um amigo ao lado, completando minha idéia da insustentável convivência com a obsessão. Pensem nisso, principalmente aqueles oportunistas que diziam apoiá-lo sem uma palavra de advertência, sem um pingo de responsabilidade diante do desfecho trágico que se avizinhava. O Mosquito não se matou, foi assassinado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Romário, quem diria

Romário, pelo jeito, não é apenas um ex-jogador que decidiu se aventurar pelos corredores da Câmara Federal onde exerce seu mandato de deputado. Resolveu levar a sério a procuração que lhe foi passada pelo povo e até aqui já tem feito muito barulho com declarações surpreendentes e com objetivo claro. Se não for mais uma manifestação demagógica e oportunista, das muitas produzidas em Brasília, o baixinho vai incomodar muita gente até a data em que assistiremos a uma Copa do Mundo por aqui.


Sintam a contundência de parte da entrevista concedida por Romário ao repórter Cosme Rímolli, da TV Record:


- Você foi recebido com preconceito em Brasília?


Olha, vou ser claro para quem ler entender como as coisas são. Há o burro, aquele que não entende o que acontece ao redor. E há o ignorante, que não teve tempo de aprender. Não houve preconceito comigo porque não sou nem uma coisa nem outra. Mesmo tendo a rotina de um grande jogador que fui, nunca deixei de me informar, estudar. Vim de uma família muito humilde. Nasci na favela. Meu pai, que está no céu, e minha mãe ralaram para me dar além de comida, educação. Consciência das coisas... Não só joguei futebol. Frequentei dois anos de faculdade de Educação Física. E dois de moda. Sim, moda. Sempre gostei de roupa, de me vestir bem. Queria entender como as roupas eram feitas. Mas isso é o de menos. O que importa é que esta sede de conhecimento me deu preparo para ser uma pessoa consciente... Preparada para a vida. E insisto em uma tese em Brasília, com os outros deputados. O Brasil só vai deixar de ser um país tão atrasado quando a educação for valorizada. O professor é uma das classes que menos ganha e é a mais importante. O Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não valoriza a Educação. E seus professores. Não há interesse de que a população brasileira deixe de ser ignorante. Há quem se beneficie disso. As pessoas que comandam o País precisam passar a enxergar isso. A Saúde é importante? Lógico que é. Mas a Educação de um povo é muito mais.


- Essa ignorância ajuda a corrupção? Por exemplo, que legado deixou o Pan do Rio?


Você não tenha dúvidas que a ignorância é parceira da corrupção. Os gastos previstos para o Pan do Rio eram de, no máximo, R$ 400 milhões. Foram gastos R$ 3,5 bilhões. Vou dar um testemunho que nunca dei. Comprei alguns apartamentos na Vila Panamericana do Rio como investimento. A melhor coisa que fiz foi vender esses apartamentos rapidamente. Sabe por quê? A Vila do Pan foi construída em cima de um pântano. Está afundando. O Velódromo caríssimo está abandonado. Assim como o Complexo Aquático Maria Lenk... É um escândalo! Uma vergonha! Todos fingem não enxergar. Alguém ganhou muito dinheiro com o Panamericano do Rio. A ignorância da população é que deixa essa gente safada sossegada. Sabe que ninguém vai cobrar nada das autoridades. A população não sabe da força que tem. Por isso que defendo os professores. Não temos base cultural nem para entender o que acontece ao nosso lado. E muito menos para perceber a força que temos. Para que gente poderosa vai querer a população consciente? O Pan do Rio custou quatro vezes mais do que este do México. Não deixou legado algum e ninguém abre a boca para reclamar.



- Se o Pan foi assim, a Copa do Mundo no Brasil será uma festa para os corruptos...


Vou te dar um dado assustador. A presidente Dilma havia afirmado quando assumiu que a Copa custaria R$ 42 bilhões. Já está em R$ 72 bilhões. E ninguém sabe onde os gastos vão parar. Ningúem. Com exceção de São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e olhe lá...Pernambuco... Todas as outras sete arenas não terão o uso constante. E não havia nem a necessidade de serem construídas. Eu vi onze das doze... Estive em onze sedes da Copa e posso afirmar sem medo. Tem muita coisa errada. E de propósito para beneficiar poucas pessoas. Por que o Brasil teve de fazer 12 sedes e não oito como sempre acontecia nos outros países? Basta pensar. Quem se beneficia com tantas arenas construídas que servirão apenas para três jogos da Copa? É revoltante. Não há a mínima coerência na organização da Copa no Brasil.

- São Paulo acaba de ser confirmado como a sede da abertura da Copa. Você concorda?


Como posso concordar? Colocaram lá três tijolinhos em Itaquera e pronto... E a sede da abertura é lá. Quem pode garantir que o estádio ficará pronto a tempo? Não é por ser São Paulo, mas eu não concordaria com essa situação em lugar nenhum do País. Quando as pessoas poderosas querem é assim que funcionam as coisas no Brasil. No Maracanã também vão gastar uma fortuna, mais de um bilhão. E ninguém tem certeza dos gastos. Nem terá. Prometem, falam, garantem mas não há transparência. Minha luta é para que as obras não fiquem atrasadas de propósito. E depois aceleradas com gastos que ninguém controla.

- O que você acha de um estádio de mais de R$ 1 bilhão construído com recursos públicos. E entregue para um clube particular.


Você está falando do estádio do Corinthians, não é? Não vou concordar nunca. Os incentivos públicos para um estádio particular são imorais. Seja de que clube for. De que cidade for. Não há meio de uma população consciente aceitar. Não deveria haver conversa de politico que convencesse a todos a aceitar. Por isso repito que falta compreensão à população do que está acontecendo no Brasil para a Copa.


- A Fifa vai fazer o que quer com o Brasil?


Infelizmente, tudo indica que sim. Vai lucrar de R$ 3 a R$ 4 bilhões e não vai colocar um tostão no Brasil. É revoltante. Deveria dar apenas 10% para ajudar na Educação. Iria fazer um bem absurdo ao Brasil. Mas cadê coragem de cobrar alguma coisa da Fifa. Ela vai colocar o preço mais baixo dos ingressos da Copa a R$ 240,00. Só porque estamos brigando pela manutenção da meia entrada. É uma palhaçada! As classes C, D e E não vão ver a Copa no estádio. O Mundial é para a elite. Não é para o brasileiro comum assistir.

- Ricardo Teixeira tem condições de comandar o processo do Mundial de 2014?



Não tem de saúde. Eu falei há mais de quatro meses que ele não suportaria a pressão. Ser presidente da CBF e do Comitê Organizador Local é demais para qualquer um. Ainda mais com a idade que ele tem. Não deu outra. Caiu no hospital. E ainda diz que vai levar esse processo até o final. Eu acho um absurdo.


- Muito além da saúde de Ricardo Teixeira. Você acha que pelas várias denúncias, investigações da Polícia Federal... Ele tem condições morais de comandar a organização Copa no Brasil?



Não. O Ricardo Teixeira não tem condições morais de organizar a Copa. Não até provar que é inocente. Que não tem cabimento nenhuma das denúncias. Até lá, não tem condições morais de estar no comando de todo o processo. Muito menos do futebol brasileiro...