sábado, 30 de julho de 2011

O túnel do tempo

Passei de quarta a sábado ouvindo e lendo fartos elogios ao jogo Santos 4x5 Flamengo. Realmente, a partida na Vila Belmiro foi espetacular e merecedora de todos os adjetivos encontrados pela mídia para classificar o confronto da quarta-feira à noite. Pelo desempeno individual de Ronaldinho e Neymar e pelas alternâncias de situações criadas graças ao talento de um craque experiente, com pinta de estar voltando aos tempor do Barcelona, e de uma promessa ainda na puberdade do seu futebol.

Os jornalistas de gerações mais próximas não têm parâmetros para comparar com o que era rotina no futebol brasileiro, tanto em se tratando de seleção como de clubes. Época da fartura de gols, de craques e dos grandes times. Lembro, como exemplos, de um 5x5 entre Cruzeiro e Botafogo no Mineirão, na reação do time carioca que perdia de 5x1 o primeiro tempo. Assisti a um espetacular Inter3x2 Cruzeiro nos primeiros tempos do Beira Rio e, na sequência, em Belo Horizonte a Cruzeiro 5x4 Inter. E os espetáculos dos bons tempos do Maracanã, com Zico & Cia. Zero a zero? Difícil, raridade.

A seleção brasileira ganhou e deu show a partir da Copa de 58 na Suécia, com placares impressionantes, até chegarmos aos escores mirrados do título de 94 nos Estados Unidos. O gol era um detalhe, dizia o vidente Parreira. Então dá-lhe prorrogação e pênalti. Hoje nem nos pênaltis conseguimos ir adiante.

Por tudo que já vivemos e passamos e a realidade da secura atual, é compreensível o deslumbramento com atuações como as de Neymar e Ronaldinho, contribuição efetiva para o resultado final de um jogo eletrizante. E numa noite que também teve Coritiba 3x4 São Paulo em Curitiba, embate ofuscado pelos acontecimentos da Vila.

Mas, cá pra nós, estas reações de encantamento acontecem pela falta de hábito, um pouco de nostalgia dos tempos em que tínhamos realmente o melhor futebol do mundo. Nem vou lembrar da era Pelé com o Santos que sofria três gols e marcava seis. Aí é covardia.

Resta-nos então esperar por outra edição extraordinária de uma rodada cheia de gols e do futebol que estávamos acostumados a assistir antes de surgirem os professores e a ditadura dos seus esquemas táticos baseados na força física e no anti-jogo. Acrescentemos doses cavalares da administração caótica e corrupta do nosso futebol e nos resignemos a acompanhar nossos melhores jogadores divertindo outras platéias pelo mundo afora.

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