segunda-feira, 1 de junho de 2009

Baixaria no rádio e na tv


(Por Antunes Severo - do boletim Caros Ouvintes - com foto da menina Maísa)



Alguns comunicadores se imaginam acima do bem e do mal… Até para os mais velhos de idade, como é o caso deste colunista, acostumado com muitas mudanças de comportamento do brasileiro vida afora, a reação é de espanto ao ver e ouvir linguajar tão baixo no rádio e na TV.
Para exemplificar como os tempos mudaram, lembro de um fato ocorrido na ex-Rádio Mulher, de São Paulo, programa de Hebe Camargo, início dos anos 1980. A famosa apresentadora recebeu a visita de uma esteticista americana que mal falava o português. Abordando os traseiros femininos, ela disse que a bundinha da mulher brasileira geralmente era durinha.
Passados alguns dias, aquela rádio foi advertida – acho que pelo Contel, Conselho Nacional de Telecomunicações –, órgão que na época controlava o rádio e a TV, com a ameaça de que se a palavra bundinha fosse novamente ao ar, a penalidade poderia determinar até interrupção de sua transmissão.


De lá pra cá, houve uma liberação exagerada e hoje apresentadores de programas de ambos os veículos usam e abusam de palavreado de baixo nível num linguajar nada recomendável. E existe alguns, como Silvio Santos, que se imaginam acima do bem e do mal e acham que tudo podem fazer diante de microfones e câmeras.
Recentemente, o famoso animador das tardes de domingo extrapolou na apresentação de um quadro ao lado da menina Maisa – então com apenas seis anos de idade – claro que em busca de uma audiência fácil. Suas brincadeiras de mau gosto fizeram a míni artista chorar aos prantos.

A pequena Maisa não suportou o susto que lhe deu um menino maior que ela que apareceu em cena maquiado de monstro. Aí um bote de desinteligência de SS: chamou Maisa de medrosa e de “cagona”, demonstrando a pequenez de algumas de suas ações no seu SBT.
Essa agressão verbal figurou por inteiro no YouTube (já foi tirada do ar), realmente um triste episódio da TV brasileira, o qual não passou despercebido de alguns membros do Conselho Estadual dos Direitos da Criança (SP) que acionaram de imediato o Ministério Público Federal. O choro de Maisa virou caso de Justiça. A cena dela chorando de medo de um monstro falso, que foi ao ar no dia nove de maio, e outra imagem dela novamente chorando, após bater a cabeça em uma câmera no Programa Silvio Santos, noutro domingo, geraram uma série de representações públicas no MP.


E o Ministério Público de São Paulo não tardou para agir: em nota oficial, afirma que advertiu o SBT, avisando que poderá reclassificar o horário do “Programa Silvio Santos”, de 10 para 12 anos, “por conter exposição de pessoas a situações constrangedoras, com a agravante de envolver uma criança”.
Maisa foi impedida de atuar ao lado do chefe Silvio Santos e uma ação civil pública contra o SBT, promovida pelo Ministério Público do Trabalho, pede à Justiça que a emissora pague R$ 1 milhão de indenização aos trabalhadores, é o que conta o jornal Folha de S. Paulo.


Segundo a Folha, o valor seria revertido para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O MPT contesta o trabalho de Maisa da Silva Andrade, alegando dano moral coletivo. A ação civil pública acompanhada de um pedido de liminar é de autoria do procurador Orlando Schiavon Júnior, da Procuradoria do Trabalho no Município de Osasco, que deu entrada na sexta-feira (22 de maio) e ainda não foi analisada pelo juiz da 2ª Vara do Trabalho de Osasco.


Ainda de acordo com a Folha de S. Paulo, a procuradoria quer mais controle sobre o trabalho de Maisa e liberou a garota de gravar nas tardes de quarta-feira. Além dos episódios em que Maisa chorou no “Programa Silvio Santos”, no quadro “Pergunte a Maisa” (barrado através de autorização judicial), a procuradoria cita ainda o fato de a garota ter substituído os apresentadores Yudi e Priscilla durante as férias deles em janeiro.


O trabalho para menores de 16 anos é proibido, mas autorizado em algumas manifestações artísticas desde que cumpra algumas obrigatoriedades, como poupança para o menor, e que não prejudique os estudos da criança.
Veja o que a escritora Lya Luft escreve sobre Maisa e Silvio na abertura de sua coluna na revista Veja desta semana (edição 2115):
“Fui uma das primeiras meninas a usar calças jeans na minha pequena cidade. Uma de minhas avós, luterana fervorosa, embora fosse uma mulher culta, exclamou: ‘Isso é o fim do mundo!’ Nem o mundo acabou nem deixaram de acontecer coisas bem mais esquisitas, a me recordar aquele episódio, que na hora achei muito engraçado.
Lembro-me dessa expressão com certa frequência. Por exemplo, quando uma criança de seis anos serviu de atração num programa de TV, eventualmente chorando de medo, nervosismo ou cansaço. Ninguém interveio logo. Se levassem a um programa desses, semana após semana, um filhote de cachorro para fazer gracinhas, as sociedades protetoras dos animais já estariam reclamando. (Quem cuida dos humanos?)
Finalmente, uma promotora impediu a criança de exercer esse trabalho. Parabéns – e que não haja recurso”.


Na programação vespertina da TV, comunicadores que ganham de 100 a 500 mil reais por mês, estão a desserviço da família brasileira. Entre 16h e 19h a baixaria tomou conta da telinha de três canais (Record, SBT e Bandeirantes).
A impressão que dá é que essas três emissoras, naquela faixa horária, estão disputando o primeiro prêmio de um concurso “Quanto pior, melhor…”. Depois, ainda tem gente que vive perguntando como a Globo consegue permanecer por tanto tempo na liderança da audiência nacional. Para enfrentar concorrentes assim, não é preciso fazer muita força.
No rádio também há um festival de asneiras. Existem programas “explícitos” que abordam assuntos relacionados ao sexo, de forma direta, chula e apelativa, sem nenhuma preocupação se crianças estão ouvindo.
Apresentadores (sic) discutem sobre o tamanho do pênis: Os “bem dotados” dão ou não mais prazer à mulher na hora de fazer amor. E até algumas sexólogas (?) de plantão, sem papas na língua, orientam de forma “bem explicadinha” tudo sobre como melhorar a performance sexual entre iguais ou não.


Na Rede TV, num recente programa “Superpop”, registra o colunista Daniel Castro, da Folha de S. Paulo: “Luciana Gimenez pediu para Renata Banhara, que tentava se equilibrar em um monociclo, deixar a “perereca” livre e segurar no “pau”.
Outra constatação é que o linguajar vulgar começa a ser usado inclusive na apresentação de programas noticiosos. Sexta-feira (15 de maio), Renata Maranhão, apresentadora do programa Leitura Dinâmica, saiu-se com esta logo na escalada das manchetes: Presidente Lula fica P da vida… (isso com referência á CPI da Petrobras). Ainda bem que ao ler a notícia ela não deu explicação para o P…


Na onda de acompanhar de perto o jeito desrespeitoso e abusado de falar da juventude de agora, algumas emissoras de rádio e TV seguem a moda e assumem postura deselegante e inaceitável desqualificando ainda mais o nível da conversação. Isso sem falar da agressão ao bom português.
A pergunta que fica no ar: Até quando nossos legisladores e o ministério competente (das Comunicações) permanecerão silentes quanto às barbaridades que diariamente os meios de comunicação, rádio e TV, despejam nos lares brasileiros?

Um comentário:

  1. R$ 1 milhão de indenização aos trabalhadores, para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), dano moral coletivo. E para a menina, nada. Os pais da Maisa também deveriam ser punidos, abraçados ao SS.

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